25 de setembro de 2010


OS PÁSSAROS SÃO LIVRES PORQUE VOAM,
OS HOMENS SÃO LIVRES PORQUE AMAM. 
AMEMO-NOS UNS AOS OUTROS, 
POIS SEREMOS MAIS LIVRES DO QUE OS PÁSSAROS QUE VOAM, 
MAS  NÃO SABEM O QUE É AMAR...

João Carlos de Souza Ribeiro

23 de setembro de 2010

Canção do Girassol


Diante dos girassóis, o meu corpo curvado e sem luz!
Sobrevivente da melancolia e das horas agudas de solidão,
desfio no tempo a sorte que nunca tive;
de não ser amado e de sentir frio...


Desnuda a alma, tudo em mim é dor!
Quem poderá me agasalhar?
O vento que sopra distante me despetala todos os dias.
Sou caule sem seiva sob o luar que mingua a minha voz..


Em mim, a certeza dos espinhos às avessas;
uma vontade gigantesca de ser cactus no meio do oceano!
Qualquer coisa insana que estarrece os homens de boa vontade.


O poeta me descobriu entre as flores do jardim;
a casa abandonada, a pintura sem vida e um retrato amarelado;
como um girassol que adormeceu para sempre ao meio-dia...


João Carlos de Souza Ribeiro

A POÉTICA DO VERDE



“Singular, a floresta amazônica!
de alto porte e espessa, não tem força
para se agüentar em pé, sendo além
disto quebradiça como vidro.”
1



A constatação de uma literatura emergente, nos limites da Amazônia Legal, é ponto fundador para uma discussão de caráter teórico – crítico, cujos vetores epistemológicos obrigam, sobremodo, os pesquisadores e estudiosos, em geral, a revisarem os possíveis estatutos que determinam o refluxo investigativo de um canonismo decadente, a priori, e a conseqüente arrolagem dos textos considerados artísticos, no universo de topia ímpar, sob outras óticas, a posteriori.
A despeito da assertiva inaugural, de que a tradição canônica descamba para uma verticalização sem precedentes, na história da literatura brasileira, não insulta os portadores do saber consagrado sobre a literatura do século expirado nem tampouco a escrita empilhada pela historiografia literária, que rompe a aurora da centúria nascente. Ao contrário: a decadentia epocal é a variável determinante para o recrudescimento de quaisquer teorias e, por conseguinte, de posturas críticas, no que tange ao soerguimento de pensamentos modelares acerca das escrituras de tônus artístico, sejam polares ou extrapolares.
Todavia, a dinâmica promotora do exercício crítico não subtrai a carga necessária para a descoberta das letras que escoam entre as lacunas salutares da própria literatura, que se renova, constantemente, no Real, como o fogo prometéico roubado dos céus para divisar os rumos de uma humanidade, senão deificada, mas, quiçá, com um pendor à cientificidade. Argumento inconteste para a revisão da evolução da literatura nacional, desde a polêmica fomentada por José de Alencar, no turno do Romantismo, no século XIX, cuja turbulência ideológica parece ter se acalmado, após o frisson, que foi a promulgação da Semana de Arte Moderna, em 1922, como mastro separatista de uma literatura, ainda vista como espelhamento de um ser europeizado, em terras tropicais, e disforme, no início do século XX.
Se, por um lado, as vanguardas, completamente díspares, fecundavam o imaginário europeu, que, aparentemente, vivia o olimpismo secular, a maior colônia portuguesa d’além mar estava à mercê de ares novidadeiros, correspondentes às avalanches de ismos que choviam, (tempes)(fes)tivamente, sobre as mentes européias como presentes singulares dos deuses augustos. Asseveradamente, as vanguardas européias constituíram-se, à época, em um brain storm, que ensejou todas as rupturas marcadas pela rubrica denominada Modernismo. Contudo, a modernidade enclausurada no modernismo do Velho Continente não era mais uma primazia do povo europeu; acostumado, este último, de forma umbilical, a ser o centro do mundo. Olvidaram-se os colonizadores do Novo Mundo de que as colônias e as ex-colônias chegaram à maturidade artística em vários campos da Arte, propriamente dita.
Controvérsias à parte, sobre a trilhagem histórica, da qual o escape era impossível para que os escritores nacionais bebessem das fontes européias, a fim de renovarem o repertório no hemisfério meridional, o Modernismo, como movimento de redenção do ideário da brasilidade, imposta, esta última, pela letra diplomática de Alencar, e, posteriormente, redimensionada, através do refinamento vernacular, implementado por Machado de Assis, também fora estilhaçado pelo pulso gravitacional, que estonteou Mário e Oswald de Andrade. Ambos, de forma sorrateira, namoraram com um certo futurismo marinettiano e planaram como salvadores de uma pátria, ainda à cata de uma conceituação sobre uma possível identidade cultural, que abarcasse todas as diferenças e igualdades espalhadas em um país de metragem continental.
O grupo nordestino de escritores que, paradoxalmente, não dispunha de cartelas financeiras vultosas, como o timbre mercadológico dos paulistas, estes últimos, representantes de uma elite em ascensão no Brasil, fora ludibriado em nome da urgência proclamada pelos artistas do sudeste, para que, cem anos, após a independência política, fato semelhante eclodisse sob o lema A Semana de Arte Moderna de 1922, quando uma outra independência, oxalá a mais importante, elevasse a arte brasileira para um patamar ímpar, num mundo que, de longe, já se globalizava. No entanto, ao rever os anais da própria história da literatura brasileira, a primeira geração modernista, organizada pela crítica literária, para o assombro e o rancor da elite cultural dominante, fora estandardizada pelos nordestinos, sob o título honroso e justo de O Regionalismo. As obras conceituais e ideológicas do Modernismo, lançadas na abertura da antológica semana, classificadas como literaturas autobiográficas e / ou talvez memorialistas, nascentes, através dos romances Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, e Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade, respectivamente, marcos reluzentes para um país que se curvava ao industrialismo da capital mais rica da nação, à época, São Paulo; e o romance antropológico Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, também de Mário de Andrade, dentre outros, revaloraram a letra artística nacional, mas não constituíram em impeditivos para a avalanche que estremeceu todas as gerações do modernismo brasileiro, a começar pela publicação portentosa de O Quinze, de Rachel de Queiroz, seguido por toda literatura proveniente da terra, que ditava a verdadeira identidade do ser brasileiro, em sua amplitude máxima: em plano primário, regional, e em plano secundário, universal. Uma outra historiografia refluía na contramão da história oficial, legitimada pelas mentes dominantes do sudeste brasileiro.
A tese, portanto, de que o Homo brasiliensis nascia de fontes marcadas por um sulismo original, por excelência, ruía, de forma imponderável, diante da verdade que sentenciava o ser complexo, habitante do maior país latino, abaixo da linha dos trópicos. A tentativa frustrada, para a eternização de um perfil, de descendência européia, sucumbira diante da conjugação simultânea de vetores diversos, e que apontavam, sobremaneira, para o nascimento, de fato e de direito, de um ser dotado de modos e linguagens próprias. A questão lingüística deportava, para além do Atlântico, os arautos da verdade gramatical, e introduzia, no saber próprio da língua brasileira, os fenômenos despadronizados, constatados na extensão territorial, que é o Brasil, e concorrendo, desse modo, para a construção de uma língua distante e destoante, no tempo e no espaço dos prosaicos lusitanos. De igual modo, a literatura, não mais uma sombra espectral do português e do francês, respectivamente, ditava novas regras, ao redefinir o traço de uma cultura emergente, cujos fundamentos enraizavam-se no nativismo do elemento indígena, mesclado com a efervescente e rica corrente africana.
Percebia-se, destarte, o verdadeiro sentido da pluralidade que, historicamente, caracterizaria a identidade cultural brasileira e sua respectiva letra artística. Por conseguinte, atestava-se a tendência multiforme na literatura pós-romântica, que, por seu turno, não dispunha de instrumentais adequados para a objetivação da tese sobre uma escrita de raízes múltiplas e seu ponto de fundação. Reconhecer que a paisagem exuberante, descoberta e idolatrada pelos colonizadores, e retratada, de forma ímpar, na histórica Carta de Pero Vaz de Caminha, prestaria um serviço, para além do ideário bucólico na literatura; travar um embate com os proprietários naturais da terra – os índios, confinados em sua cultura distinta e massacrados pelas mãos do dominador branco; compreender o entrelaçamento dos valores africanos com os elementos emergentes de uma nação sob os trópicos, para revalorar o novo, demarcando a linha do paradoxo, nos estudos da história e da historiografia literárias, constituíram-se em um esforço de dotação homérica, fadado ao declínio epistemológico, ao tempo da construção de um saber crítico acerca da Literatura Brasileira, em última análise. A tarefa elucidativa não lograria êxito, pois o tempo interpunha-se como lâmina afiada a sangrar qualquer letra crítica que se expusesse na tentativa de rescritura do Brasil, em tempo exíguo de nascimento. Aqueles que escreviam produziam crítica e pensavam o país, em cujo sinergismo a lente de observação e detecção das verdades buscadas estavam, na maioria das vezes, desfocada; e o caráter de singularidade de nossa literatura, que adveio de um pluralismo modelar, implodia sentenças várias e colocava a crítica literária em rota de colisão com os anais da própria História, fosse de ordem oficial ou o seu absoluto contradito.
Na trilhagem de uma literatura, que não atendia aos clamores de uma região do país, e tampouco poderia ter a assinatura de um grupo de intelectuais, de cuja herança o extrato era, indubitavelmente, o refinamento de um temário d’além mar, a reconfiguração do novo, que demarcava, na aurora da última centúria, o traço distintivo de uma cultura em eclosão, sob todos os aspectos, impunha outras vozes na grafia artística, e que, paulatina e simultaneamente, no corredor da História, obrigava os salteadores das verdades sobre os fundamentos de uma cultura literária, dita nacional, a devolverem os objetos originais aos seus lugares legítimos. A verdade retomava o seu lugar primordial, e o Brasil redescobria o Brasil na virada do século XIX para o século XX. Vale ressaltar, neste turno, que a teatralidade, propalada e levada a termo pelos modernistas, na antológica Semana de Arte Moderna, em 1922, desencadeou o efeito da ruptura, desejado por seus preconizadores, segundo a historiografia de base canônica. Entretanto, afundando o solo da singularidade do rompimento, que não atingiu a plenitude de sua ação, descobre-se apenas uma força abrandada, de ferimentos sem muita gravidade, entre a escrita literária européia, de matiz essencialmente branco, e a escrita emergente brasileira, de tônus notoriamente multicolor; e, ainda, à guisa de uma classificação convincente, ao olhar crítico da História, à problematização da própria Literatura, e, em análise ulterior, à reflexão da Poética, como estatuto alternativo de revisão do evento literário enquanto manifestação da Arte, em sua expressão ímpar.
O Modernismo, como movimento artístico, como corrente estético – literária, ou como período literário, cunhou, por um lado, a literatura de um país em profunda renovação, no que concernia aos temas emblemáticos para certificarem a maturidade de um povo; e protagonizou, por outro lado, de forma exemplar, o palco de transformações, ainda por serem recepcionadas e arroladas pela crítica histórica, pelas teorias sociais, em voga, à época, e pelos modelos emergentes da Crítica Literária, concentrados nas primeiras décadas do século nascente. Neste sentido, é inegável a importância do evento modernista, que se constituiu em portal distinto para um labirinto de entradas e saídas múltiplas da nova literatura brasileira, apartando-se, de vez (?) dos interlocutores europeus. Hesitações de toda sorte pairavam nos ares, nas escrituras díspares, e, sobretudo, nas mentes dos que prevaricavam, ao proclamarem, peremptoriamente, que eram os autênticos representantes da intelligentsia brasileira. Nesta diretriz, indaga-se: quem eram os sacerdotes desta verdade quase divinal? Se se comportassem como românticos, espécies extintas pelas teses cientificistas do Realismo, seriam acusados de tardios, anacrônicos, ou mesmo uma cópia mal feita dos ancestrais, que divisaram os estudos de cultura e de literatura nacionais, ambivalentemente. Se locupletassem verdades ensaiadas em laboratórios, poderiam quedar-se no equívoco das paixões inflamadas pelos tempos novidadeiros, e sentenciar verdades que, certamente, não se coadunariam com as escrituras artísticas que surgiam, à época.
À falha da ruptura, seguiu-se o desastre do acefalismo mórbido, que acometeu todos os pensadores do modernismo brasileiro – sentença irrefutável, ratificada e consagrada pela fenomenologia da própria arte literária, que se expandiu por todas as gerações ditas modernistas. Percebe-se, através do zoom angular do poeticismo, que a História da literatura experienciou o efeito chamado de contramodernismo2, pois, na errata de um criticismo, validado pela Hermenêutica, desvendava-se, de forma gradual, a verdade sobre a verdade do / no modernismo nacional. Qual seja: os atores da Semana de Arte Moderna eram modernistas, mas o cenário não passava de uma pseudoteatralização de uma paisagem rabiscada com aspiração ao moderno. Marinetti, Samotrácias vencidas pela velocidade do automóvel, flashes de câmeras fotográficas, imagens de toda sorte, nas telas cinematográficas, inaugurando uma nova linguagem, não combinavam com a realidade brasileira. A saber: um país agrário, que sequer vivenciara a sua própria revolução industrial; uma população mestiça e longe das letras; uma elite soberba e detentora do capital entre os estados do sul e sudeste, respectivamente, e uma tendência arrogante para um neo – ufanismo ilógico – retrato de um Brasil que se distanciava de um outro Brasil; um hiato secular que, ainda, estigmatiza, hodiernamente, uma nação riquíssima de outra paupérrima. Ora, diante de um fosso mais do que comprobatório de que o Modernismo foi de poucos e para poucos, somente o avião, inventado por Alberto Santos Dumont, poderia nos conceder a graça e o ar de sermos modernistas, de fato e de direito. Em uma analogia desafortunada à contraditória sentença histórica de Gonçalves de Magalhães, em 1836, na abertura do romantismo brasileiro, através da publicação e do lançamento, na França, da Revista Niterói: Tudo pelo Brasil, e tudo para o Brasil 3, as letras modernas, nestas plagas, estavam longe de evidenciar os perfis diversificados que compunham o dito ser brasileiro.
Do Achamento do Brasil, com a elevação da Carta, de autoria de Pero Vaz de Caminha, ao patamar de certificação oficial do nascimento da pátria verde – amarela, ao rompimento secular da barreira epocal, na qual a plêiade de escritores brasilianistas promoveu o desmantelamento da tradição literária, até então em voga, que fora o Modernismo de 1922, o lapso temporal inflacionou a história da Literatura Brasileira com teses assaz prosaicas, pouco verossímeis e, por conseguinte, pouco condizentes com a identidade real do homem, predicado com o adjetivo brasileiro. Os trópicos determinavam outros matizes, que escaparam à pena real, no tempo da Coroa Portuguesa, quando consolidou, esta última, o seu poder máximo na maior colônia, para além dos mares lusitanos, bem como fomentaram, sob a tinta desmedida dos românticos, o ideal de descoberta de uma face com as verdadeiras cores do Brasil. O ativismo da imprensa modernista, empilhando arte, cultura, política e economia, propagandava, em fast time, a inserção doutras naturezas, reconhecidamente distintas e, portanto, agentes renovadores sobre a questão da brasilidade, em plano primário, e da identidade nacional, em plano secundário – sonho quase tornado pesadelo, nas mentes brilhantes da elite cultural brasileira, desde os tempos da colonização.
Ora, o tingimento da grafia nacional recaía, de forma avulsa, e através de um processo extremamente violento, em tonéis vindos doutros cantos do Velho Continente. Os tempos chaplinianos e loquazes determinavam o traço mais do que moderno, em cuja vestimenta o Brasil fulgurava com um brilho dissonante, apresentando, desse modo, ao mundo, outras raças, novas cores; outros sabores, novas vertentes: os Imigrantes, a palo seco. A hedionda guerra mundial, nas duas versões em que foram produzidas, pelos ensandecidos germânicos, atormentou poloneses, húngaros, italianos, japoneses, judeus, e todas as gentes que se apinhavam nas modernas caravelas, e que, involuntariamente, fariam o redescobrimento do Brasil, e alargariam, em última análise, as fronteiras de uma miscigenação, marcada pela conjunção das três raças distintas, que compuseram, até o início do século XX, a feição aparentemente derradeira do ser brasileiro: o índio, o branco e o negro. Agora, a nau que atravessou novamente o Oceano Atlântico trouxe linguagens singulares, culturas díspares e tons multirraciais. Reside neste fenômeno extra-étnico o verdadeiro valor do Modernismo, em sua amplitude de significação e metassignificação, imperceptível aos olhos de seus visionários e defensores epocais. Uma outra revolução estava sendo gerada no ventre da cultura brasileira. Se coube aos ingleses a primazia da Revolução Industrial, selando, definitivamente, o modelo de economia no Ocidente, e aos franceses o privilégio de serem os arquitetos da Revolução Francesa, divisando a história moderna da contemporânea, coube ao Brasil, ao tempo do fenômeno da imigração européia para cá, a Revolução das Cores 4 (grifo meu), consolidando o prisma do multirracialismo, que predomina na etnia do maior país da América do Sul.
A outra face dessa revolução, que então se fazia, ao tempo da pré-industrialização paulistana, e responsável por conferir ao Brasil o assento histórico, como primeiro pólo industrial do continente sul-americano, adveio, sobremaneira, do congraçamento das etnias em cruzamento contínuo com o fluxo histórico dos elementos fundadores. A noção de cultura brasileira e a conceituação epistemológica sobre a possível identidade do homem, nascido em terras brasileiras, revisavam as fronteiras do painel elucidativo do ser que espraiou certezas e incertezas, verdades e não – verdades, perguntas e respostas etc, em uma terra de dimensões gigantescas, demarcando, na diferencialidade cultural, em última análise, os módulos variados, que determinam o perfil estilizado e, claro, inaugural, nos riscos latentes dos novos eldorados. Ufanismos desprezados, a linguagem multíplice do ser brasileiro estava sendo retonificada pela quantidade de melodias e acentos altissonantes, desmesurados e aparentemente assimétricos, nos cantos, recantos, encantos e desencantos, que lirizam a poética, qualquer que seja a sua predicação: aristotélica, platônica ou plotínica.
Os accents dos mais diferenciados, de culturas distintas, dos povos imigrantes, trazidos para esta terra, sob o lema da crise mundial que assolava a Europa do entre e do pós – guerras, respectivamente, sustentaram o sentido antropofágico do ser brasileiro que, nestas planícies, agigantava-se como espinha dorsal do Modernismo, elegendo, em seqüenciamento temático, o descaratismo do legendário Macunaíma 5 como rubrica de uma raça à cata de uma assinatura legítima e majestosa. Os valores europeus, à época do descobrimento, graças à insistência da turba que sacudiu as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em 1922, estavam soterrados; e as novas moedas em circulação cunhariam, ao longo de toda existência do modernismo nacional, a marca ficcional e miscigenada da letra artística, que então se apresentava, reconstituindo, por fim, o traço emergente de um ser que não era mais a aparência exótica, impingida pelo olhar do estrangeiro, e nem tampouco a representação de uma força híbrida, desprovida de qualquer significação relevante, no que concernia à construção de um pensamento e de uma teoria concorrentes sobre o homem dito brasileiro. Eis, portanto, o arquétipo que baliza, com efeito, o nascimento do Homo brasiliensis.
A partir do estatuto da brasilidade, modelo arquetípico e plasmado no desejo inconsciente daquilo que se compreende por brasileiro, o radicalismo da cultura nacional redimensiona o fulcro conceitual, cuja tradição remonta às primeiras críticas gregorianas, ao tempo do Barroco, e estabiliza a problemática sobre a questão geopolítica do país pelo viés da multirracialidade. Paulatinamente, clarifica-se para o pensador, o historiador, o historiógrafo literário, para o crítico da arte escrita, e, principalmente, para o poeticista, o estado contingente dos fatos amontoados, em quase meio milênio de existência do Brasil, certificando, destarte, a Literatura Brasileira como lâmina especular de várias realidades, que não estão circunscritas no eixo de uma escrita literária, nuclearizada pelos sulistas e alavancadas pelos nordestinos, como bem trata a arrolagem canônica da referida literatura. Em verdade, o refinamento teórico – crítico, no segundo quartel do século XX, desponta para escrituras coexistentes com o modelo balizado pela crítica literária, nos turnos dos saberes acadêmicos.
A redescoberta do Brasil, conforme a minha proposição neste ensaio, que se intitula A Poética do Verde, é a pedra angular para as devidas rediscussão e revisão sobre a literatura, predicada nacional; sua titularidade representativa e sua postulação como a voz legítima de uma nação, que não incluiu na arrolagem canônica a letra artística do povo, a priori, denominado estranhamente de Amazônida. Claro está, que a fundamentação inicial a ser buscada, a partir do circuito amazônida da linguagem, ainda é insuficiente, pois a linha geopolítica, que desenha o espaço do elemento fincado em solo amazônico e sua expressão cultural, em sentido amplo, carece, sobremodo, de uma reflexão mais adequada para a construção e o soerguimento de um corpo translúcido, distinto e marcadamente brasileiro, que espelhe a verdade humanística, em abertura profícua, no coração da floresta, ou no universo verde, se é possível promover tal abordagem.
O empreendimento de uma possível Ecopoética 6, vinculado ao modus procedenti da tarefa hermenêutica, apresenta-se, de forma basilar, como instrumental objetivo para a compreensão do Ser, modulado nas letras emergentes da região norte, brasileira, tendo como fundamentação inaugural a busca pelo sentido primevo daquilo que é amazônico, amazônida e, portanto, nacional. A delimitação de um espaço geográfico, que ultrapassa a territorialidade da Amazônia, invadindo, com suas fronteiras, outras nações, faz deste universo uma locanda de identidade diferençada daquela, apontada pelo processo histórico de formação do homem dito brasileiro, em análise primária; entretanto, necessária para a compreensão da universalidade, levada a cabo, na Semana de Arte Moderna, arrebatando o antropofagismo modernista de 1922, em análise secundária. A redescoberta do Brasil atravessa a Amazônia, encharcada de borracha, povoada por portugueses, espanhóis, sírios e libaneses, e dominada por manauras, nobres equatorianos, que se contrapuseram aos descendentes de uma corte européia, e, portanto, ricos, instalados no Rio de Janeiro; e consolidada pelo sangue derramado e plasmado, de forma inconteste, pelos nordestinos, no final do século XIX e princípio do século XX, quando a dinastia dos seringais parecia representar o ideário das terras do sem fim, tropicalmente infernal, nos limites vorazes do espaço verde.
A historiografia literária, de cuja escrita emana toda a trajetória da própria Literatura, se não excluiu, deixou de incluir o imaginário do povo que surge vigoroso e legendário no seio da floresta. O rastreamento de símbolos ou de um emblema, que marca esses “estrangeiros brasileiros”, aos olhos da história e da crítica literária, de base canônica, respectivamente, construiu, desde a fundação das escrituras que tematizam a Amazônia, o elo perdido da história da literatura e da literatura artística, em análise contínua. Última peça a ser encaixada no complexo quebra-cabeça denominado brasilidade, a Amazônia invisível dá visibilidade ao pluralismo vertente de um pós-modernismo, que não se configura na arrolagem consagrada dos textos modelares da literatura dita nacional, e que, ainda, está à guisa de uma reflexão profunda sobre os veios mais essenciais que decidem, com efeito, o nascedouro do Homo brasiliensis, com sua linhagem representativa e sua linguagem distintiva, no âmbito regional, a priori, e no espaço universal, a posteriori.
A figura do índio, distante da imagem cristalizada pela ótica do colonizador, na época do descobrimento, “exoticamente” plantado no litoral, bem como aquele que foi vilmente ultrajado e transgenicamente modificado, na letra romântica, no caso da floresta, é a voz plena da Alteridade que emerge para dialogar não mais com o branco, mas com todas as falas exógenas, que parecem promover um fenômeno renovado das entradas e bandeiras, agora, na rota crescente do Pacífico – a via marítima do Terceiro Milênio. O índio, nas plagas verdes, é outro ser. Soturno, silencioso, interagindo com a floresta, ocupante e protetor do circuito verde, este senhor da floresta constitui-se, através da revisão sobre a identidade do ser brasileiro, na própria linguagem, que, desde 1500, conversa, dialoga, protesta, resiste e, sobretudo, representa a essência da terra brasilis – latinamente conceituada, mas não brasilianamente experienciada por todos que intentaram modelar, no barro, um ser que jamais tivera o fôlego da vida. Entre a teoria e a prática, havia um fosso que, gradativamente, estava sendo desfeito, e que continua, hodiernamente, nos desdobramentos pós-românticos, pós-modernos e, quiçá, pós-contemporâneos, de acordo com a assinatura de um século que expirou recentemente: a vigésima segunda edição. O pensamento pós-metafísico da / na passagem finimilenar e finissecular parece, a meu ver, conferir o acento adequado para o soerguimento de um ideário completo, em cuja configuração os elementos ditos brasileiro, brasiliano, brasilidade, brasilianidade, brasilianismo, brasiliense, dentre outros, promovam, sinergicamente, o fenômeno da revelação sentencial, que determina a identidade primeva do Ser do / no Brasil, e seu DNA distintivo entre as culturas identificadas pelas letras histórica e artística, respectivamente, no planeta.
Os modernistas de 1922 cometeram o pecado capital, já protagonizado pelos românticos, no século XIX, quando pintaram, em telas imaginárias, e descreveram, em folhetins utópicos, um ser que jamais fora conhecido, e que, certamente, surgiu natimorto. O delirium tremens acometia o imaginário nebuloso dos que empunhavam a grafite para desenhar uma figura, que mais descambava para a caricatura do que para o perfil real dos móveis representativos de um ser genuinamente brasileiro. À peia secular, seguiu-se um constrangimento cultural, no qual a letra artística, constituída em vários contextos literários, rasgou as teses históricas sobre a identidade do homem nacional, impondo outras faces, outros olhos e outras vozes, no portrait, em terceira dimensão. Abaporu, afortunadamente, consistira, à época do Modernismo, em um desenho ímpar, cujo traço distintivo mostrou, na lateral, uma das verdades a ser desvelada, dentre outras, no meio de tantas caras e bocas que multifacetaram, ao lado da polifonia, que caracterizou e marca a cultura brasileira, em toda sua magnitude e grau de expressão, um ser plural, contornado pelas margens da singularidade; elevando, em patamar ulterior, as letras brasileiras e sua mensagem, hermeneuticamente decifrada, à assembléia modelar dos consagrados desbravadores do Mundo Novo.
A inserção doutros elementos, para pautar uma reflexão justa sobre o projeto de construção da identidade nacional, redispõe o espaço natural e a verdade cultural, no itinerário dos 500 anos de idade da nação brasileira. Explorado sob todas as formas e santificado pela lírica e prosa, respectivamente, o índio ascende à condição de herói pelas mãos híbridas dos intelectuais do século XIX. Todavia, a problemática a ser considerada dispensa a sentença que vituperou a (sua) natureza, os (seus) valores e a (sua) cultura; violando e violentando, de forma radical, o mundo equivocadamente classificado de indígena – ocorrência paradoxal que vige, ainda, na atualidade. O adensamento da questão, portanto, arrasta outros emblemas para a compreensão do circuito verde, com seus atores, cenários e performances. As personagens não ficcionais, e sim, reais - partícipes e protagonistas do / no universo amazônida -, não se coadunavam nem com a rubrica nacionalista, erguida e cristalizada pelos românticos, nem tampouco com a tinta da caneta esferográfica dos modernistas. Assim, atrás da figura arquetípica do índio, que se transformava em uma categoria terceirizada pela História, nadificada quanto à classificação de tônus teórico, estava um ser que flutuava entre o papel e a escrita, entre o imaginário e a realidade, entre o real e o não – real. Na zona intermediária, a despeito de qualquer tentativa vã de repassar a verdadeira estória de um elemento mais do que fantástico, logo, sobrenatural, pois trazia consigo outros índices velados e reveladores doutras dimensões, o olhar míope do invasor, quer seja o de sangue azul, quer seja o do descendente, que aqui nasceu, praticara o ato mais grave de todos, ao erigir a sentença que determinaria, com efeito, a essência, e, por conseguinte, a identidade do ser brasileiro, provocando, em última análise, um desvio epistemológico sem precedentes na historiografia literária. Qual seja: ao excluir a natureza sobrepujante da linguagem emergente do universo verde, os primeiros brasilianistas não incluíram na tese sobre a brasilianidade a matéria – prima que substanciou, significativa e metassignificativamente, todo placentário que sustentou os intelectuais máximes, ao longo da história de um país chamado Brasil e de uma literatura denominada brasileira.
A poiesis de fundação de um mundo a ser descoberto, constituindo-se em um amazonismo crescente, através do guache de um realismo exacerbado ou de um expressionismo tropical, é, indubitavelmente, a representação mítica que descerra, visceralmente, o índio, disseca a terra nova e apresenta à Alteridade outras vozes, outras gentes, outras estórias, legendariamente; deslindando dimensões, que, do fantástico ou do sobrenatural, realizam-se, hiperrealizam-se; renovando os matizes de uma cultura que, segundo a minha visão crítica, ultrapassa a fronteira do multirracialismo para modelar um estágio evolutivo, no processo de construção do ser brasileiro, em sua complexidade estrutural. Objeto em terceira dimensão, quiçá um corpo prismático, rascunhando a visão aristotélica acerca da realidade luminosa, em gradação constante, o elemento ontológico, em alto-relevo, abre fendas epistemológicas como bisturis rompendo, friamente, as carnes de um tratado convencional, que arrolou diversos escritos sobre uma literatura nascente, mas que não considerou a letra e a cultura já existentes nestas terras.
O repasse da História não é uma estratégia de apelação jurídica ou algo semelhante para redispor as peças de um quebra-cabeça em seus devidos lugares, a fim de que o rosto multifacetado do brasileiro se reconstrua diante de outras faces grifadas distintamente no planeta, em tempos agudos de globalização. O pincel de Tarsila do Amaral, ao reproduzir na tela modernista os traços negróides e exuberantes de uma fêmea morena e rústica, em cuja modernidade avultava-se um porte naturalístico, não deixou herdeiros diletos para a confecção de uma aquarela genuinamente brasileira, onde as gentes das florestas mais distantes do litoral pudessem configurar a outra face do Brasil, com direito de voz e voto para se autodeterminarem tão altivas quanto às imagens clássicas que povoaram o imaginário coletivo da elite cultural brasileira. Falta acrescentar à verdade ora posta ou, talvez, reposta, que o matiz, agora, antes de ser plural ou multicolor, é verde, por excelência. Destarte, é legítimo asseverar que a floresta invade, definitivamente, a cidade; os seres da floresta retomam seus lugares originários, enterrando todas as sentenças de alijamento no processo de construção de um ideário sobre a identidade nacional, que foram defendidas, ao longo do meio milênio de existência de nossa terra. Eldorados à parte, portanto, ou mundos perdidos, na ótica enviesada de um europeu arrogante e descontextualizado, o Ouro Verde resplandece na aurora do século XXI, e a letra artística da Amazônia, que derruba fronteiras e alcança pátrias hermanas, consagrando o pacto de uma historicidade ibero-americana, emerge da clareira aberta, no ventre das terras virgens, para revelar ao outro Brasil a fala silenciosa de povos excluídos da História e da Literatura consagrada pelo canonismo decadente.
O ser redescoberto no circuito verde impõe questões renovadas no que tange à ontologia, que redefini(rá) a essência do elemento considerado brasileiro, em análise medial. A escrita artística, revelada pelo itinerário das personagens, que constroem o vértice de uma linguagem transmodelar, inaugura, com efeito, um novo período na literatura nacional, em análise de fluxo contínuo. Em cena aberta, o Homo brasiliensis.

João Carlos de Souza Ribeiro

- Referências:

1. RANGEL, Alberto. Inferno verde. 5. ed. Manaus: Editora Valer, 2001. p. 93.
2. A referida terminologia emerge como evento, a partir das discussões crítico – teóricas acerca do Modernismo, no que tange à falha epistemológica da corrente em tela, no turno da historiografia literária. A tarefa empreendida pelo poeticismo incidente comprova, desse modo, o fenômeno, que ora denomino, de contramodernismo, cuja rubrica assinala o distanciamento filosófico entre as possíveis teorizações sobre as obras classificadas como modernistas e sua relação díspare com a realidade em voga.
3. MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira. Vol. II. 12. ed. Cultrix, São Paulo, 2006, p. 18.
4. Lancei, oportunamente, neste ensaio a referida nomenclatura, pois, ao meu olhar crítico, a integração dos imigrantes ao processo cultural brasileiro, em última análise, demarca a fronteira do ser brasileiro, que é reconhecido não somente pela composição das três etnias distintas, consagradas pela História - o branco, o índio e o negro -, mas através do advento da segunda onda de miscigenação, que ocorreu no final do século XIX e início do século XX, e que fará do ser dito brasileiro este elemento multirracial e, portanto, diferencial entre as culturas emergentes no planeta.
5. Personagem principal da obra homônima de Mário de Andrade, que se baseou no ser legendário, presente no folclore nacional e emblemático para a representação da cultura brasileira, em última análise.
6. Inauguro, a despeito da minha pesquisa atual, Transmodelos Poéticos: linguagens em circuitos, reflexões diversas acerca do estatuto da Poética e sua atuação na contemporaneidade, bem como a atualização discursiva daquela em poéticas distintas, em profusão, e não arroladas pela crítica canônica. A meu ver, a Ecopoética emerge dos textos da / sobre a Amazônia, em cuja temática o espaço verde é a personagem principal; e sua mensagem visa ao resgate primevo de uma identidade que complementa o ideário acerca do homem dito brasileiro.

22 de setembro de 2010

HIPERSIMBOLISMO E MULTIRREALISMO EM JOSÉ SARAMAGO

Proposituras poéticas


A escrita artística de José Saramago, nas trilhas em que percorreram assinaturas férteis no idioma de Camões, ocupa um lugar ímpar na literatura do vernáculo português. Tal apontamento inicial não se baseia no fato histórico, e ainda único na literatura em língua portuguesa, que foi o reconhecimento internacional que valeu àquele o prêmio Nobel de Literatura, o primeiro no circuito da lusofonia. Muitos arriscam, por este turno, olvidando-se, de forma pecaminosa, que o texto artístico, qualquer que seja o seu autor, está acima de qualquer especulação e / ou elementos temporais e representativos de épocas distintas. Assim, o texto literário de Saramago, a despeito disso, não está à mercê desta ou daquela láurea. É refém, sim, da Arte, que, soberana, confere, através da eternidade, o grau e o valor necessários para que a obra, neste caso, a literária, espelhe, na ordem de grandeza de um artífice, a sua produção artística, e, principalmente, a sua linguagem. Esta, sim, denunciadora inconteste de um tempo, de uma realidade; e, portanto, a assinatura confessa de um homem dito epocal, para além das classificações que marcam a história, a historiografia literária, a crítica textual; e todos os discursos congêneres que intentem legitimar a escrita crítica sobre um autor modelar, por excelência.
Nesta senda, cumpre asseverar que sou remanescente de um grupo de estudiosos que, em busca da verdade poética, redescobre, na letra artística, outras mensagens, outras realidades, outras vozes, ainda inaudíveis, mas latentes na tessitura do artista em tela, uma vez que concebo o texto literário como um labirinto vivo, cujos corredores, flagrantemente mortais, mudam de lugar todas as vezes que promovemos o exercício profícuo da leitura.
Destarte, deduzo, portanto, que as possíveis saídas não existem, os terríveis minotauros são imortais; e tal qual Sísifo, repetimos a trajetória realizada por um desgraçado Ícaro, sentenciando um tempo que não se esgota, e revelando, em sua dynamis fundadora, fundante e refundante o espargir luminar da poiesis - nascedouro primo da verdade literária.
O texto de José Saramago, compreendendo o espaço poético no qual a letra artística em foco se torna ímpar, é, de forma redundante, exemplar, ao prescrevermos um ensaio, que enseja a representação transmolecular de uma matéria que não existe. O inexistente é a palavra de ordem e tomo invisível de uma literatura ou de uma produção poética, qualquer que seja a letra crítica que adiramos, ao transpormos a barreira sígnica e transígnica, na qual a verdade do texto de Saramago repousa.
A postulação erigida acima rompe com as estruturas possíveis, calcadas, por este turno, em sentenças da ordem da historiografia e críticas canônicas que, letárgicas, não parecem perceber a desordem que marca as escritas artísticas no novo fin-du-siècle ou na transição, marcada pela Decadentia. Estaríamos todos enredados por um novo romantismo ou reescrevendo a corrente homônima sob a égide de um fenômeno siamês? A travessia, que todos protagonizamos, intermediando espaços contínuos, deflagra, para além do olhar humano, o registro da letra poética, que salvaguarda a força da poiesis em sua manifestação sob o signo do inefável; daquilo que pertence à ordem do inesgotável em literatura.
Penso, de forma radical e oportuna, que o possível leitor deste ensaio deve estar fechado em copas, e buscando, à sombra nefasta de um período do entresséculos, o risco poético que desenha a verdade do texto de José Saramago. Neste empilhamento de sentenças, que constroem e desconstroem o homem dito temporal, ou quiçá o sujeito histórico, no limiar da nova centúria, apraz-me, sobremodo, identificar a literatura de José Saramago como escrita refratária de verdades díspares, confluentes, híbridas, e vacilantemente hologramáticas, conduzindo o leitor por caminhos de solos movediços a espaços outros, e que são marcados por um ageografismo incidental; determinações poéticas do não - espaço, cindindo os limites do suprarrealismo e da realidade metafantástica ( termos que inauguro, oportunamente, segundo a poética de Saramago ).
Clarificam-se, portanto, para o poeticista, as fronteiras ultimadas daquilo que se postula como a verdade contida no texto literário, para além da significação e da metassignificação modulares. A compreensão do texto de Saramago, a priori, pode (re)trair a percepção de seus receptores (os leitores prováveis). No entanto, à traição ou (re)tração segue-se o desvelamento de uma verdade textual, que não está circunscrita nesta ou naquela obra, ou neste ou naquele anunciado. O olhar e a voz partícipe de um autor, ludibriado pelo silêncio poético, nos remetem às cenas extraordinárias construídas em suas narrativas. Uma vez (re)traídos, descambamos todos, indelevelmente, para o estado inebriante que sua literatura nos provoca, no sentido mais hermenêutico que o vocábulo sugere, promovendo a aura hipersimbólica que orbita a poética de cartilagem, também multirreal, e que, embora estabeleça um marco divisor na literatura em língua portuguesa, que é a obra de Saramago, no século XX, estranhamente absorve, para a fortuna em literatura, parte do acervo da Decadentia, do trânsito para o século do maquinarismo e das distopias emergentes – proposições renovadas da letra crítica, que empreendo, acerca desse autor de condição atópica no risco do criticismo.
Ora, ao contracenar nesta escrita crítica com o autor, que deslinda universos paralelos, beirando o contradito do humanus, proponho, como poeticista, não a dissecação ou a retórica periodológica, que possa esquadrinhar e / ou reduzir a estética de uma obra no decurso de sua evolução. Este posicionamento, antes de ser uma defesa ilibada, é, com efeito, a postura da ciência literária, que, meticulosamente, percebe o texto enquanto poiesis, em seu espaço de acontecimento fenomenológico, para lançar as bases de um criticismo emergente, visando à abertura dos selos de totens enigmáticos para a decifração das verdades poéticas constituintes da escrita de Saramago.
Impetrado o axioma, cabe-me o exercício da descoberta dos níveis que envolvem a verdade textual. Assim, ao tratar da produção poética desse escritor, a pena científica não derramará a tinta rubra nas linhas deste ou daquele romance. Antes, escreverá a verdade que navega nas ondas textuais de um autor, que se desaguou em si mesmo para (re)universalizar uma literatura consagrada por mares navegados d’antanho e por sonhos passadistas; das mensagens de reis míticos e encravados no imaginário de um povo conquistador, das façanhas épicas, e de um saudosismo hiperbólico, mergulhando em uma nostalgia secular o melancólico povo português no rumo de sua ruína geopolítica: tema para uma náusea que ultrapassa o sentido sartriano de ser.
As considerações anteriormente arroladas, que denomino laminares, a meu ver, podem ferir a letra crítica, pois o empreendimento da investigação, da revelação e da compreensão da verdade poética em Saramago pode desqualificar o poeticismo concorrente na obra do autor em foco, neste ensaio. Daí, a tentativa e a insistência de meu exercício, como poeticista, em erigir um texto essencialmente crítico, problematizante, elevando a Poética, no turno de sua epistemologia, ao nível de sua própria reflexão. A poética de José Saramago, neste sentido, é manancial de verdades multíplices, que transitam em todos os textos de autoria daquele, e que não pertencem a esta ou àquela narrativa, mas circulam esfericamente para todos os espaços e para todas as épocas, como se o todo fosse contínuo e não partitivo, segundo a própria divisão de suas obras por temas e títulos.
O exercício da intertextualidade, neste ensaio crítico, é incabível, pois inconcebível é o tratamento da verdade do texto poético de José Saramago, alocando aquela como representação de uma enunciação ou enunciado, aos moldes de um estudo sistemático dedicado a outras literaturas, segundo o canonismo levado a efeito pelos estudos tradicionais da historiografia literária. Assim, o ponto axial na presente reflexão não se atém à tessitura da Caverna ou ao Memorial do Convento, por exemplo. Esdrúxula ponderação será aquela que intente intertextualizar os referidos textos, considerando que ambos são registros da letra de decadentia esgarçada, cujas substâncias referem-se a temas adversos e transitam em realidades distintas. O que pode parecer uma babel, em Saramago, é, na verdade a Babel bíblica, ipso facto, para assombro de leitores leigos ou de representantes da ciência literária.
Proponho, inusitadamente, a ação de uma personagem que, tateando à meia – luz, redescreve a verdade da tessitura em tela para evitar desvios que comprometam a trabalho efetivo de valoração do referido texto. Outrossim, cumpre destacar que José Saramago encarna, de fato e direito, a face doutra personagem que, no trânsito epocal do século e milênio, vislumbra, com o olhar arremessado para o passado, a possibilidade de reescritura da literatura sobre Portugal e para além de uma lusitanidade histórica sob a ótica de uma outra realidade. Aqui, portanto, cabe assinalar que para Saramago a Alteridade é a própria realidade. Sua escritura é a Alteridade, pois suas personagens atravessam o espaço da ficção para se alimentarem e retroalimentarem do fingere em seu universo mais abrangente que podemos imaginar.
Reside neste exercício do pensar a complexidade da tessitura poética de Saramago e sua compreensão, que não se dá do texto que reflete a realidade, fomentando o retorno à letra como a imagem que volta ao espelho. Ao contrário: a compreensão se dará através do seu reverso. As realidades flutuantes, que denomino hipersimbólicas, e as realidades de campos redimensionados, que denomino multirreais, são espaços excluídos da tessitura poética em questão, em análise primária. Em visão secundária, invadem o corpo da escritura para, enfim, sob o primado da Linguagem, legitimarem-se como ficcionalidade; como móvel literário que qualifica o texto do referido autor como expressão artística.
Retornar ao passado ou avançar para o futuro, ou, ainda, redefinir-se no presente, como faz Saramago em sua poética camaleônica, confere à tessitura, no decurso da desconstrução da realidade o portrait da Alteridade, cada vez mais esvaziada, desde que o século XX inscreveu sua verdade epocal, e, em tempos atuais, pulverizada. O ar, aparentemente fantástico, enverniza e hiperboliza a voz ácida e cáustica de um autor que desfere críticas a diversos estatutos edificados sobre os escombros de uma realidade em franca decadência.
A letra artística de José Saramago é o reflexo imponderável de um tempo que não pode ser descrito pelo turno da cronologia ou da diacronia em simbiose, pois a modernidade que se transformou na pós - modernidade, e o finissecularismo que se transformou em tempos pós-metafísicos, constituem-se, em última análise, na matéria - prima da poética de um autor que se hipersimboliza para conjecturar as diversas realidades, em contradição vertical. Quanto à realidade, pulverizada pela dinâmica da desconstrução, que desreferencializa aquela, Saramago multiplica-se em alteridades inexistentes para impor, não um modelo de verdade, mas expor a fratura do homem cambaleante de um milênio sombrio.

João Carlos de Souza Ribeiro

19 de setembro de 2010

PELAS VEREDAS DO INCONSCIENTE: SOB O SIGNO DE DESEJO

  
Poderia começar este artigo, indagando, ao meu caro leitor ou leitora, sobre o seu desejo mais recôndito, ou, talvez, revelar para o mundo inteiro os meus verdadeiros desejos. Aliás, há desejos que podem / devem ser ditos, e outros que devem / podem ser ocultados; como também há muitos que devem / podem ser revelados, e outros que jamais devem / podem ser conhecidos. Não é mesmo?
Você já se perguntou quantas vezes desejou alguma coisa, e, por alguma razão, não alcançou êxito em seu intento? Já pensou, por exemplo, em ter sido o objeto do desejo de alguém e não o sujeito desta fabulosa ação? Pois bem, meu caro leitor, quantas vezes você já conjugou o verbo desejar em sua vida? Pode parecer estranho para você tal indagação, ou melhor, estranhíssimo! Eu desejo, tu desejas, ele deseja, nós desejamos e os elos se desencadeiam infinitamente. 
Desejo não se conjuga. Desejo é. E, por ser o fenômeno que envolve o universo desiderático, (desejo vem do verbo desiderare, do Latim), quando desejamos algo em nossas vidas, estamos, efetivamente, plenificando o nosso Ser de forma audaciosa, completa e impositiva. Logo, quem deseja é em toda a sua essência. A força motriz da ação de desejar alguma coisa ou alguém está na capacidade individual de cada um de ser. De ser para si, de ser para o outro, de ser para o mundo, e de ser, de forma transcendental, para as esferas mais altaneiras deste universo que se nos apresenta de forma misteriosa, envolvente saborosa; e provocando, em última análise, em todos nós, a incômoda angústia que nos lança no abismo de nossos próprios corpos.
Desejar é estar nos astros. É literalmente estar com os astros. Desta forma, portanto, estamos em pleno estado de con-sidera-ção. Considerar é estar no firmamento, compartilhando a luz que transborda dos astros, quer estejam suspensos, como luminares permanentes, quer estejam em queda livre, de forma espetacular sobre a terra viva, na condição empoeirada que nos recolhe(rá) num futuro prestes ao congelamento infalível. Em outras palavras, sob a força inercial da Morte.
Ora, se a relação do desejo funda a condição do ser que se move por todos os lados na realidade, na qual estamos inseridos, desde o gesto mais simples até o olhar mais insinuante, que podemos lançar sobre aquilo que desejamos (queremos) tragar para as nossas entranhas, a questão do ser se pauta na medida deste desejo em vias de realização ou não. Desejar implica ser, desde que o ser atinja o seu objetivo nuclear: a completude. A completude não se dá de forma aleatória, insana e desgovernada. Esta noção equivocada de muitos críticos da filosofia desconsiderou a idéia libertária e totalizante do pensamento existencial defendida por Martin Heidegger.
A completude, em instância final, é a marca universal do ser que só se dá sendo. Aqui, caríssimo leitor, o óbvio é mais do que necessário. Por quê? Porque a experiência do fenômeno, em seu acontecimento factível na realidade - o mundo que nos cerca, propriamente dito - e aquele que estabelecemos como referência prima são, com efeito, a tradução mais fidedigna do que somos, sob todos os ângulos. E o desejo como ação, como objeto, como projeto, e, sobretudo, como realização, é a linha que arremata o tecido de nossas vestes existenciais.
Desejar, portanto, parece confundir-se com Ser; ou Ser apresenta-se na condição do estado não conclusivo do Desejar. Como desejar sem ser? Como ser sem desejar? Ou, como desejar, apenas, obliterando, reduzindo ou desconhecendo o ser? Ou, para terminar as nossas indagações, como ser, de forma libertária, sem ao menos desejar? Tais questões, que descambam para as variáveis (im)previsíveis do que se entende por matéria “desordenada”, no nosso inconsciente, são verdadeiros arcaísmos na história da humanidade, desde que se descobriu que o Homem não é o ser dos instintos, como preconizaram os evolucionistas no século XIX, mas o representante singular do cogito; ou para ser mais objetivo, caro leitor, o ser pensante.
Neste sentido, estabeleço um ponto nevrálgico nesta discussão: a tarefa do pensamento une o Ser ao Desejo e vice-versa. Caro leitor, por quê? Por que é através da ação efetiva do pensamento é que transformamos o que temos de mais essencial – o (nosso) ser em (sua) plenitude individual – em desejo; às vezes, absoluto, às vezes, relativo. Ao desejarmos algo externo a nós, somos; ou somos quando expressamos aquilo que desejamos. A relação bilateral, portanto, se sustenta pela atividade contínua do pensamento, que, em última análise, nos eleva, acima da cena natural, e nos conduz para o patamar do ser dos contrários, que somos, e que nos marca como a única espécie errante no planeta; ou seja, para o ser cultural que somos, fundados num desejo que nos torna seres angustiados, e movidos por uma força estranha que surge quando confrontamos, inexoravelmente, a Alteridade.
Destarte, cumpre-me afirmar que o Desejo (Wunsch) (nos) impõe a circularidade do Ser, a sua imanência, a sua transcendência, a sua fenomenologia e a sua organicidade. O Ser é a variável mais provável que determina a peregrinação à qual nos lançamos numa roda viva e infinita, e que nos torna refém de êxodos eternos e de desertos circulares, ainda que nossos projetos se definam pelo auto-expatriamento do si e não pelo sitiamento da entidade subjetiva.
E o primado do Desejo continua... E viva o Ser das pulsões!


17 de setembro de 2010

Eu



A cara esfarelada e um pão podre no prato
Pedaços de mim que não consegui salvar
Tempos longínguos
Auroras mortas em céus incandescentes


Meu pai morto antes da hora
E minha mãe envolta em silêncios
Condenei santos na forca
Todos desenhados no papel


Aonde estão os meus algozes?
No espelho traiçoeiro, um contorno sombrio
Na flecha do arqueiro, a minha sentença


Os dentes no meio das cinzas e um segredo jamais revelado
Xadrez sem rei e uma rainha assassina:
Cheque mate!

15 de setembro de 2010

A grandeza de um ministério

É corrente a ideia de que abraçar as causas do Reino de Deus na terra significa erguer trombetas para o alto, e, com grande alarido, estremecer baluartes, montes; gentes de toda a sorte, para proclamar com glória, fulgor e retumbância os fenômenos emanados do Senhor dos exércitos.
No entanto, há que se ter a compreensão cristalina de que nem sempre os céus e a terra serão abalados com tremores de toda ordem para que o Altíssimo, em sua magnitude ímpar, se faça presente diante dos mortais e das criaturas por Ele criados. Não! O contrário, neste sentido, é tão verdadeiro quanto a brisa suave da manhã, que desliza sobre a nossa face, como se o Pai estivesse nos acariciando, ou o belo despertar do alvorecer, que, silencioso, mas não menos exuberante, nos concede, todos os dias, o privilégio de anunciar mais um dia de vida, trazendo, por fim, a luz, tão necessária para que a natureza sobreviva e continue o milagroso curso da existência.
Portanto, entre a força tremenda, que aterroriza os homens, tomando de assalto toda a terra, e a singeleza das estações, tão cíclicas, tão fraternas, quando primaveras coloridas se transformam em verões ardentes, e outonos melancólicos se tornam frios vetustos; aí, com efeito, está a vigorosa presença de Deus, cujo espírito esparge toda sua graça e esplendor, arrebatando todos aqueles que reconhecem a Sua glória, sob o temor, e se, de justificam, incontestavelmente, pela fé inabalável.
Deus é infinitamente grande porque Ele, de forma ininterrupta, se faz pequeno diante de nossos olhares míopes e de compreensão sinuosa, mostrando-nos que os maiores ensinamentos nascem das atitudes mais simples que há na vida de cada um.
No sorriso de uma criança, na mão de um pedinte, no sono de um idoso, no orvalho da madrugada, contemplamos o maior de todos os mistérios do universo: a presença augusta, insuperável e insubstituível de Deus, sempre humilde, sempre caridoso – nosso Pai, que habita as mais altas moradas celestiais e que nunca nos desampara!
Eis a grandeza de um ministério. O trabalho de um ministro não é nem grande nem pequeno; não é barulhento tampouco silencioso; nem é totalmente forte ou completamente fraco. Ele é diferente porque está entre o que é e o que não é, pois é no meio da travessia que está o Espírito Santo.
Não há ministérios sem ministros assim como não há ministros sem a presença constante de Deus. A grandeza de um ministério está na morada do Espírito Santo: nossos corpos, nossos corações.

João Carlos de Souza Ribeiro - da Série: Nas Asas da Alva

14 de setembro de 2010

O RETORNO DOS CÃES




Seus olhos me perseguem,
seus dentes também!
Minh'alma canina não esconde a raiva dos homens...
Desejos danados e um copo salivado em esmpumas bastardas.
Fui expulso da matilha!

Minhas patas desandam meu corpo.
Ébrio, a plumagem despede-se de minha pele;
e desnudo, sou latido morto no cruzeiro de almas!
Perdi os moedores!

Sacrificado, lembro-me dos meus irmãos
dos meus pais e de meu passado estraçalhado!
Por que os cães sempre guardam os infernos?

De: João Carlos de Souza Ribeiro - da Série O Despertar dos Cães!

12 de setembro de 2010

Iohanan katan kli

Iohanan katan kli
Iohanan Katan Kli, por quê?
Muitas pessoas têm indagado a mim o porquê destes três nomes ao invés do meu nome verdadeiro. Seria um pseudônimo? Sim e não, eu afirmo! Eis aqui, portanto, a explicação:
1. IOHANAN - É a transliteração do Hebraico do nome próprio JOÃO, cujo significado é LUZ, GRAÇA DIVINA. João, o profeta e primo sanguíneo de Jesus Cristo e o apóstolo, que não são a mesma pessoa, ambos, ANUNCIARAM, em tempos distintos a LUZ, a vinda do Messias como Salvador, e a sua segunda vinda, no livro de Apocalipse. JOÃO, o gracioso, é o representante do evento da GRAÇA sobre toda a terra.
2. KATAN - É a transliteração do Hebraico do adjetivo pequeno. A posição pós-posta na língua hebraica de IOHANAN KATAN equivale à forma portuguesa diminutiva, que quer dizer JOÃOZINHO.
3. KLI - Da língua hebraica, o substantivo comum significa VASO. Vaso que nas mãos do oleiro (Deus) é constantemente reformado para o preenchimento de Sua luz (Ór) para que a Sua glória se manifeste continuamente.

CELEBRAÇÃO



Há 32 anos atrás, eu tomara a decisão mais acertada da minha vida: andar com Jesus Cristo. Seus ensinamentos, Suas palavras, Sua vida, breve, porém o suficiente para que eu fosse salvo e adquirisse o direito à vida eterna como todos aqueles que acreditam Nele, ainda reverberam em meu viver, e assim será até à consumação dos séculos, quando todos os cristãos gozarem da paz e da felicidade eterna no paraíso: a nova Jerusalém! 
Este texto pode ser de caráter pessoal, e é, com certeza, pois, exatamente hoje, em 12 de setembro de 1978, eu me convertia e deixava para trás o velho homem para ser uma nova criatura; ou melhor, para ser, verdadeiramente, FILHO DO SALVADOR! No entanto, você, que, porventura, visitar este blog, ler este texto, e se não tens a Cristo como único e suficiente Salvador, eis aqui o convite. Você quer ser feliz de verdade? Então venha e aceite a Cristo como plena razão de tua existência. Confesse a Ele, ele te ouvirá, te acolherá e te consolará com Teu Santo Espírito! No mais, tudo Ele fará por você assim como tem feito por mim e por muitos que se entregaram a Ele, de corpo, alma e coração! 
JESUS CRISTO nos ama incondicionalmente! O apelo está feito, caro leitor ou cara leitora: aceite sem medo as palavras de salvação e terás uma vida transformada e abençoada por aquele que deu a vida por todos nós! 
Sejam bem vindos ao blogue IOHANAN KATAN KLI! 
SuperbeiJOÃO no coração! 
Amém!