5 de outubro de 2010

Réquiem para um poeta


Canta desgraçada,
que o teu canto é morto de nascença!
Canta porque a fome há de te devorar...
Canta, somente, canta
o teu canto agudo de morte!

Canto;
é lá onde estou
à míngua, sem canção!
Emudecido pela solidão salgada de homens hipócritas
e mulheres aleijadas...
No canto, o meu desencanto pela vida!

Lá se vai o verão,
e a mim me verão esticado
sob cobertores de gelo;
saudade abaixo de zero
que eternizará, em azul, meus olhos abertos...

Quem morreu?
Eu, Deus ou a cigarra?


João Carlos de Souza Ribeiro

2 comentários:

Eduardo Guedes disse...

Lindo poema professor... Quem canta????? No finalzinho do poema o senhor responde, a Cigarra. Belíssimo!

DeDê disse...

será que o recado esta assim maravilhosamente embutido?
Bom pelo menos veio a calhar revelando-me o proprio estado de espirito atual....
perdoi-me só ter visitado agora o seu blog....
como sempre...Nada por acaso!